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Quando o riso é pacto machista, misógino e racista

  • Foto do escritor: IJN
    IJN
  • 28 de ago.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 17 de set.

No último carnaval, recebemos no WhatsApp a foto de uma turma de amigos que, após tocar em um desses blocos descolados debaixo de sol escaldante, estavam confraternizando nas democráticas ladeiras de uma cidade nacionalmente conhecida pela beleza de sua festa. 

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Com espanto, notamos a presença de um casal cujo relacionamento é publicamente tóxico e violento. Já havia chegado até nós que, em momentos de crise, dentre outras violências, a cabeça da mulher é jogada contra a parede. Mas ela justifica que são situações difíceis vivenciadas pelo namorado e busca ser compreensiva com aquele homem que “é maravilhoso com ela quando está bem”. Mesmo sem vínculo com esse casal, ter recebido aquela imagem nos gerou uma reflexão profunda.

As mulheres vítimas de violência em seus relacionamentos estão entre nós. Os seus algozes também. E o que estamos fazendo para encorajar essa mulher a sair dessa situação? Ou ainda, o que estamos fazendo para no mínimo constranger esse homem diante de seus crimes? Por que ele segue nos mesmos círculos, brincadeiras e mesas de bares como se ninguém soubesse o que ele faz e do que é capaz? 


Recentemente, vimos a justiça carioca condenar um humorista que levava para os seus shows piadas com gays, mulheres e pessoas negras. Estupro para ele é tema de piada. Feminicídio também. As risadas da plateia eram tão chocantes quanto a violência praticada em cima do palco. Certo estava Goethe, quando nos lembrou que o nosso caráter também era revelado a partir do que achamos engraçado. Há quem acredite que não há limites para a liberdade de expressão, mas antes de ser um debate jurídico, é uma questão de humanidade. 


Afinal, qual é a graça da desgraça? Não é piada quando a ferida de alguém é tocada. Quando um trauma é revivido. Quando há deboche do que faz muita gente desistir de viver. Em “Memórias da Plantação”, Grada Kilomba nos traz com maestria para a cena da triangulação do racismo. Há quem agride, quem sofre e quem assiste. Esse terceiro elemento precisa ser tão constrangido quanto quem é racista. Torna-se testemunha e cúmplice ao não romper com a inércia ou ao, de alguma forma, respaldar a atitude do agressor. 


Estamos no mês dos namorados e namoradas. E a gente torce não apenas para que mais mulheres consigam romper os ciclos de violência aos quais estão submetidas. Mas também para que mais colegas de trabalho, amigos do futebol, da música, da vizinhança, retirem as vendas da hipocrisia que impuseram a si mesmos. Vivemos num país onde  os feminicídios, que haviam apresentado queda em 2023, voltaram a crescer e alcançaram o maior número da série histórica: foram 1.459 casos em 2024, segundo dados do Mapa da Segurança Pública de 2025. O equivalente a quatro mulheres mortas por dia. Não cabe piada diante desse fracasso civilizatório. Cabe educação e justiça. 


 


 
 
 

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